IAU.USP em Casa - Ciclo de Palestras (13) - Diálogos
Desde sua publicação na década de 1970, O canteiro e o desenho provocou apressadas conclusões sobre a impertinência das críticas de Sérgio Ferro ao desenho da arquitetura: por que o desenho, concebido a partir de referências da 'alta arquitetura' e autorizado como representação do projeto a executar, seria mero prestador de serviços no processo de produção capitalista do valor? Por que ele seria apenas um coadjuvante da expropriação violenta da força de trabalho nos canteiros?
Os incômodos se estenderam por mais de quarenta anos, e chegamos agora a um amplo reconhecimento de que a teoria crítica elaborada por Sérgio Ferro não se põe contra o desenho de forma genérica. Sua crítica se debruça sobre o desenho funcionalizado, submetido, separado do contexto da produção e de seus produtores. Trata-se de colocar em julgamento aquele desenho que tem "um passado traumático e traumatizante, reativado constantemente pela prática da subordinação formal na manufatura", aquele desenho que "nasce com a destruição da autonomia do canteiro do qual sai como escória dessa perda", substituindo "com seu enfezamento autista a autonomia produtiva autêntica que ajuda a castrar".
No lugar desse desenho separado, Sérgio aponta a reinvenção de um "desenho imerso no retorno da autonomia produtiva", reconhecendo que "a dignidade sóbria do desenho integrado como momento da produção é o oposto contraditório da indignidade do desenho escravizador a serviço do capital".
Todas essas citações foram extraídas de Construção do desenho clássico, o novo livro de Sérgio Ferro, que está sendo produzido e editado pelo selo MOM Edições, uma iniciativa do Grupo de Pesquisa MOM, vinculada à Editora da Escola de Arquitetura da UFMG.
O IAU EMCASA, um evento promovido pela Comissão de Cultura e Extensão do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, CCEx-IAU, traz, no próximo dia 28 de abril, uma conversa entre Sérgio Ferro e Silke Kapp – professora da EA-UFMG e responsável pela edição de Construção do desenho clássico –, mediada pelo professor João Marcos Lopes, do IAUUSP.
A iniciativa dialoga com a difusão da obra de Sérgio Ferro em língua inglesa, mobilizada pelo projeto Traduzindo Ferro / Transformando Conhecimentos em Arquitetura, Projeto e Trabalho para o Novo Campo de Estudos de Produção, que é coordenado pelo professores João Marcos Lopes e Katie Lloyd Thomas (Newcastle University), apoiado por um acordo de cooperação entre a FAPESP e a agência britânica Arts & Humanities Research Council (AHRC).
SÉRGIO FERRO PEREIRA é pintor, desenhista, arquiteto e professor. Formou-se arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, em 1962. Três anos depois, faz pós-graduação em museologia e evolução urbana, na mesma faculdade. Em 1965, participa da organização da mostra Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde também expõe. Cursou semiologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, em 1966. Na década de 1960, integra com Flávio Império (1935 - 1985) e Rodrigo Lèfevre (1938 - 1984) o Grupo Arquitetura Nova. É professor da Escola de Formação Superior de Desenho, entre 1962 e 1968; do curso de história da arte e de estética da FAU/USP, de 1962 a 1970; e do curso de arquitetura da Universidade de Brasília - UnB, entre 1969 e 1970. Por causa da ditadura militar no Brasil, mudou-se para a França, em 1972. De 1972 a 2003, lecionou na École Nationale Supérieure d'Architecture de Grenoble [Escola Nacional Superior de Arquitetura de Grenoble], na Suíça, e, na mesma universidade, funda o laboratório Dessin/Chantier [desenho/canteiro] e o dirige de 1982 a 1997. Realiza pinturas figurativas, inspirando-se principalmente em figuras presentes nos desenhos e pinturas de Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564). Recebeu o prêmio de melhor pintor da Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA, em 1987. Publicou, entre outros, os livros O Canteiro e o Desenho, 1979, Michelangelo: Notas por Sérgio Ferro, 1981, e Michel-Angel, Architecte et Sculpteur, 1998. Realiza murais para várias instituições na França e no Brasil, como o Memorial da América Latina, em 1990, e o Memorial de Curitiba, em 1996 e em 2002.
SILKE KAPP é arquiteta, com mestrado e doutorado em Filosofia (UFMG, 1994 e 1999) e pós-doutorado na área de sociologia urbana (Bauhaus Universität Weimar/ Capes, 2015). Atualmente é professora associada da Escola de Arquitetura da UFMG e líder do Grupo de Pesquisa MOM (Morar de Outras Maneiras). Tem experiência nas áreas de Arquitetura, Urbanismo e Planejamento, atuando principalmente nos seguintes temas: estudos de produção, teoria crítica da arquitetura e da cidade, espaço cotidiano, interfaces para a autonomia, metodologia da pesquisa sócio-espacial.
Grupo de pesquisa MOM: www.mom.arq.ufmg.br
Selo editorial: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/selo/index.html
JOÃO MARCOS DE ALMEIDA LOPES é Professor Titular no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, IAU-USP, em São Carlos/SP. Integra o Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade - HABIS, do qual é um dos coordenadores. Foi Pró-reitor Adjunto de Cultura da Pró-reitoria de Cultura e Extensão da Universidade de São Paulo entre março de 2014 e março de 2016. Doutor em Filosofia e Metodologia das Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos (2006) e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo (1999), graduou-se Arquiteto e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 1982. Desde o início de 2018 é bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq categoria/nível 2. É associado da USINA Centro de Trabalhos para o Ambiente Habitado - da qual foi coordenador geral no período de 1990 até 2005. (edited)